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O que é esse tal de Biohacking?

Atualizado: 7 de jul. de 2021

Pense na seguinte pergunta:

O que seria hackear alguma coisa?


A grande maioria das pessoas associa a palavra “hackear” ao conceito de “invadir” ou “violar”, mas na verdade significa “ter acesso”; “acessar” ou “tornar acessível”.

O termo surgiu no início da era digital, lá pelo fim dos anos 50, quando jovens estudantes visionários começaram a se reunir independentemente – dentro ou fora das universidades, com ou sem os professores - para desenhar máquinas e programas em uma nova linguagem, que possibilitaria o começo de uma nova era para os desenvolvimentos tecnológicos e as mudanças no mundo: a linguagem binária.

imagem de várias linhas de código em linguagem de programação.

Imagine agora esse grupo de novos programadores sendo inundados pelas infinitas possibilidades da computação: eles sabiam que dava para sonhar cada vez mais alto, mas que ao mesmo tempo era trabalho demais para que houvessem poucas pessoas envolvidas. Então, boa parte dos movimentos de desenvolvedores tinham como princípio uma intensa lógica de partilhamento, inerente à própria cultura daqueles que passaram a ser conhecidos como “hackers”. O método que eles seguiam consistia em desenvolver projetos e ir resolvendo problemas conforme iam surgindo e, para cada solução, promover a sua imediata circulação para ser objeto de crítica dos outros. Era o início do até hoje conhecido RFC (Request For Comments – solicitação de comentários), comum na computação, que nada mais é do que pôr uma ideia (uma solução) na mesa, aguardando a colaboração dos demais.

No entanto, para cada vislumbre positivo acerca de tantas possibilidades, também havia o receio em vista de cenários potencialmente malignos. Pensando nisso, foi desenvolvida a Ética Hacker, cujos mandamentos deveriam orientar as ações de todos os hackers.



Uma lista com os 6 mandamentos da ética hacker: 1) Acesso total e ilimitado aos computadores e quaisquer dispositivos que possam te ensinar como o mundo funciona. 2) Toda informação deve ser "free" (livre e gratuita). 3) Sempre desconfiar da autoridade e buscar a descentralização de procedimentos e informações. 4) Pessoas devem ser julgadas baseado na qualidade do que efetivamente fazem e realizam, não por critérios falsos como escolaridade; idade; raça ou cargo. 5) É possível criar arte e beleza através de computadores e dispositivos tecnológicos. 6) Computadores e as demais tecnologias podem e devem tornar a vida melhor.
Mandamentos da Ética Hacker

É possível enxergar a ética hacker em diversos aspectos da tecnologia. Desde o compartilhamento de mídias na internet (músicas, livros, filmes e séries) até a disponibilização online de trabalhos e projetos para que sejam reproduzidos e até melhorados, como se fossem (em linguagem de programador) “códigos abertos”, o que também chamamos de “open source initiative”. Portanto, podemos enxergar a ética hacker como a democratização da informação e a popularização do conhecimento.


Pekka Himanen, em A Ética Hacker e o Espírito da Era da Informação, descreve os métodos de trabalho daqueles que atuam mais diretamente no desenvolvimento de softwares para computadores e, expandindo esse conceito, pensa que essa postura hacker pode ser, em última instância, uma postura para todos os campos das atividades humanas. Para Himanen, são sete as características da chamada ética dos hackers: paixão; liberdade; valor social (abertura à comunidade); nética (ética da rede); atividade; participação responsável e criatividade, todas elas devendo estar presentes nos três principais aspectos da vida: trabalho; dinheiro e ética da rede.



Uma consequência inevitável do movimento hacker foi o movimento maker. A partir desse conceito de que “todos devem ter acesso a todo tipo de conteúdo”, e muito em função das “gambiarras” improvisadas pelos hackers na prototipação de suas tecnologias, iniciou-se o “movimento maker”, que viria a ser a cultura do “faça você mesmo” (do inglês “do it yourself”, ou simplesmente DIY). Este, poderia ser interpretado como o “empoderamento do fazer”, que visa que cada um pode suprir as suas próprias necessidades materiais, normalmente utilizando ferramentas e elementos simples, E MUITA CRIATIVIDADE.

Indo além, a ética hacker associada à cultura maker, basicamente, diz que VOCÊ PODE SER, SABER E FAZER QUALQUER COISA.



Então, será que é possível hackear a ciência?


Considerando a definição de ciência como todo corpo de conteúdo obtido ao explorar hipóteses da forma mais prática possível - o que eventualmente resultou no processo que hoje chamamos de “método científico”, ao acessar ou tornar acessível o conhecimento científico (como faz maravilhosamente bem a plataforma scihub ao disponibilizar gratuitamente livros e artigos científicos pagos), já poderíamos dizer que se está hackeando a ciência... Mas e se formos além?


Será que dá pra hackear o fazer científico?


Todo conhecimento científico é obtido através do método científico.



Infograma resumido sobre o método científico: 1) Faça uma pergunta; 2) Revise a literatura; 3) Formule uma hipótese; 4) Realize experimentos; 5) Aceite ou rejeite a hipótese.
Método Científico

Se somarmos a metodologia científica + ética hacker + cultura maker, teremos o chamado “Science Hacking”, ou “Ciência de Garagem”. Quando adicionamos o prefixo “Bio” ao termo “Hacking”, normalmente estamos falando sobre Science Hacking voltado para as ciências biológicas e biotecnologia.


Mas esse é o único significado que existe para a palavra Biohacking?


Não. Podemos dividir o conceito de Biohacking em 3 principais vertentes:

  1. DIY Bio: que é a parte de investigação científica e aplicação biotecnológica.

  2. Lifestyle Hacking: que é o melhoramento de performance ao hackearmos nosso próprio organismo através de mudanças e geração de hábitos na nossa rotina.

  3. Grinder: que é a confecção de dispositivos cibernéticos e/ou de soluções biológicas para serem inseridos no próprio corpo visando seu aprimoramento (numa vibe bem transhumanista mesmo).


Normalmente, as pessoas usam o termo “Biohacking” sem grandes especificações para falar de qualquer uma dessas vertentes, o que não está errado, mas causa muita confusão quando não se fala das outras.



E aí? Já consegue pensar nas possibilidades?


Referencias:

Pretto, Nelson – “Redes colaborativas, ética hacker e educação” – Educação em Revista – 2010



Levy, Steven – “Hackers: heroes of the computer revolution” – Évora – 2001



Himanem, Pekka – “The hacker ethic and the spirit of the information age” – 2001


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